Sobrevivi ao dia Tomando chá de camomila Ouvindo o realejo Que engoliu um macaco Pulando corda Sem corda O dia passou Sem que eu tomasse banho Sem que caísse na bacia Sem arear panelas Descrença de que exista Deus De que exista céu Inferno nem pensar Pensando bem, pode até ser Quem comeu minhas bananas?
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Tristeza, um lugar, como um mar onde se pode mergulhar.
Tristeza, água fria, que nos abraça, envolve. Há momentos que dá vontade de pular dentro dele e de olhos abertos ficar olhando o azul infinito, hipnótico. No fundo onde se ouve apenas a pressão nos ouvidos. Fechar os olhos e sentir, atravessando todo o ser. Tornar-se parte dele, estender-se para além do conhecido, esquecer-se do corpo, flutuar, sem peso até não ser nada além de azul. Onde está aquela sabedoria dos meus oito anos?
O conhecimento da constituição atmosférica dos planetas, dos nomes de estreitos e mares distantes. Capitais de países enigmáticos. O talento para colorir de azul as nuvens, de púrpura as árvores. Onde está a leveza nos olhos curiosos? A coragem para enfrentar dragões e bruxas. Monstros invisíveis debaixo da cama. Onde está aquela menina dos meus oito anos? Façam silêncio
Pois o poema vai encher a página Façam silêncio escuro Pois o poema precisa de peso Para atravessar A superfície da água Para deslizar Para o fundo Lá no meio dos peixes E suas sabedorias abissais Encontrará seu destino De ser comido A lua mestrua?
Mestrua a lua quando nova? Sangra uma vez por mês? Despertando a ira das ondas Cheias, marés Minguantes, estacionárias Desastrosas e escuras O que acontece com a lua Quando pára de crescer? Deus tem dente
Que nem a gente? O destino sempre tece Até quando esquece? Qual o som do silêncio Quando ficamos todos quietinhos Olhando para o mar muito azul Num dia de domingo? O que o vento grita Para as folhas da calçada Que assustadas se arrastam Nessa tarde ensolarada? Sapatos
Vira-luas Folhas amarelas em pânico Cachorros Guarda-chuva perdidos Afinador de pianos "A vida é cheia de pacotes..." Ruazinhas A lua Quilômetros do silêncio noturno Andorinhas Trem que não vem Anjos sonâmbulos "As únicas coisas eternas são as nuvens..." Gosto da palavra mármore e losango. Não sei porque, mas penso em pedaços de doce, daqueles preparados em tachos de barro sobre fogo de lenha e colher de pau bem grande na mão da cozinheira preta, suada, lenço no cabelo, sorriso branquíssimo no rosto como se lavado à sabão de coco.
(1)
Xangai. Metrô entupido. Odor de sopa de repolho e de ovos cozidos. O barulho dos vagões soando como se fossem desmantelar sobre os trilhos. Ele me olhou. Fiquei sabendo no ato: o contrataram para me matar. Por que não me importava? (2) "Um passo depois do outro". Discordei. "Não foi assim que nos aproximamos". "Como então?" "De olhos fechados com a certeza dos pés no precipício". "Ah, você está contaminada com idéias baratas". E não é que ele tinha razão? Combinamos o encontro para a semana seguinte. (3) O céu vermelho sob nuvens púrpuras e smog. Poluição descendo sobre os prédios com seus dedos brancos. A cidade estendendo-se aos nossos pés da janela do trigésimo andar. "Como uma cena de Blade Runner", ele disse. Queria beijá-lo. Deslizar minhas mãos pelo seu corpo liso cheirando a jasmim. Sentir a intensidade de seu desejo. Será que chineses fazem sexo como os outros caras? |
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