Façam silêncio
Pois o poema vai encher a página Façam silêncio escuro Pois o poema precisa de peso Para atravessar A superfície da água Para deslizar Para o fundo Lá no meio dos peixes E suas sabedorias abissais Encontrará seu destino De ser comido
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A lua mestrua?
Mestrua a lua quando nova? Sangra uma vez por mês? Despertando a ira das ondas Cheias, marés Minguantes, estacionárias Desastrosas e escuras O que acontece com a lua Quando pára de crescer? Deus tem dente
Que nem a gente? O destino sempre tece Até quando esquece? Qual o som do silêncio Quando ficamos todos quietinhos Olhando para o mar muito azul Num dia de domingo? O que o vento grita Para as folhas da calçada Que assustadas se arrastam Nessa tarde ensolarada? Sapatos
Vira-luas Folhas amarelas em pânico Cachorros Guarda-chuva perdidos Afinador de pianos "A vida é cheia de pacotes..." Ruazinhas A lua Quilômetros do silêncio noturno Andorinhas Trem que não vem Anjos sonâmbulos "As únicas coisas eternas são as nuvens..." Gosto da palavra mármore e losango. Não sei porque, mas penso em pedaços de doce, daqueles preparados em tachos de barro sobre fogo de lenha e colher de pau bem grande na mão da cozinheira preta, suada, lenço no cabelo, sorriso branquíssimo no rosto como se lavado à sabão de coco.
(1)
Xangai. Metrô entupido. Odor de sopa de repolho e de ovos cozidos. O barulho dos vagões soando como se fossem desmantelar sobre os trilhos. Ele me olhou. Fiquei sabendo no ato: o contrataram para me matar. Por que não me importava? (2) "Um passo depois do outro". Discordei. "Não foi assim que nos aproximamos". "Como então?" "De olhos fechados com a certeza dos pés no precipício". "Ah, você está contaminada com idéias baratas". E não é que ele tinha razão? Combinamos o encontro para a semana seguinte. (3) O céu vermelho sob nuvens púrpuras e smog. Poluição descendo sobre os prédios com seus dedos brancos. A cidade estendendo-se aos nossos pés da janela do trigésimo andar. "Como uma cena de Blade Runner", ele disse. Queria beijá-lo. Deslizar minhas mãos pelo seu corpo liso cheirando a jasmim. Sentir a intensidade de seu desejo. Será que chineses fazem sexo como os outros caras? Cheiro de corpo suado nos lençóis como fragrância esquecida, seu rosto muito branco e seus cabelos como tinta negra escorrendo pelo travesseiro, formando uma cortina que emoldura seus olhos rasgados, seus lábios vermelhos, dentro desse quarto rodeada por vasos de porcelana, dragões de bronze, bonzais manicurados dentro de delicados potes de madeira pintados de verde. Penso em outra coisa, quero lhe perguntar sobre o que aconteceu ontem à noite. Quem tomou aquele trem? Quem era aquele homem que agora deve estar morto?
Passinhos curtos. 1, 2, 1, 2.
Voz de vidro e o rosto do garoto redondo como um pandeiro. Vamos, vamos. Passos curtos. 1,2, 1,2 e para o lado direito e esquerdo e agora braços arqueados. Vira e volta, tenta de novo, vamos. As pernas dela bonitas e longas, sapatinho preto e o garoto empenado como guarda roupa velho. Olhos escuros, muito sério, toda sua concentração na sola do pé e no calcanhar. 1,2, 1,2. Algo que vai e volta.
O que está enclausurado na caixinha de tesouros? É ouro? É ouro? Formiguinha negra. Preciso comprar pão, notas dobradas, encardidas. Meus pensamentos acorrentados um no outro. Assim, assim, numa sucessão sem fim. Sem fim. Blop, blop, bolinha de sabão. Blop, blop. Espatifou-se jogando água nas crianças. |
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