Kafka em algum dia do ano 1910 reclama dos cinco meses que se passaram sem que ele conseguisse escrever algo que o deixasse satisfeito. Se sentindo como uma palha seca, cujo destino é ser queimada numa tarde de verão, ansiando e temendo por isso, ele se pergunta se é infeliz. E chega a conclusão que após esse tempo de incapacidade de escrever não se sente infeliz, nem feliz. Ele não sabe como se sente. Ler os diários de Kafka me faz suspeitar de que todo o escritor sofre do mesmo mal. Essa necessidade de tirar de si, o que ele sabe que possui, todo essa imensidão de sentimentos que precisam ser expressados. Ao mesmo tempo uma eterna frustração, principalmente nos dias que por algum motivo ele não se senta e escreve. Eu me sinto assim às vezes. Como um animal preso. Nós que temos vocação para pássaros e vivemos numa gaiola. Nós que temos vocação para voar e que temos medo de não conseguirmos. Se apenas soubéssemos que não é preciso esforço nenhum. Que o vôo está escrito em nosso gene. Apenas é uma questão de pular, fechar os olhos e sentir o vento.
0 Comments
Die Anthologie Weg-Kreuzungen der edition vhs.
Nächste Präsentation am Dienstag, 18. Oktober, 2011 um 19:30 im Amerlinghaus, 1070 Wien Kafka conseguiu como ninguém desnudar a alma de seus contemporâneos. Quando o leio tenho a sensação de que falo com alguém que entende as nuanças obscuras de nossa existência. Entende questionando, entende porque as vivencia e não por que formula teoria sobre elas.
Nessas horas tenho vontade de correr, de gritar, escrever adentrando a noite. Tenho vontade de me jogar de um prédio alto, de entrar numa nave espacial e viajar para um lugar distante no universo. Tenho vontade de ser sincera, de ser eu mesma e de aceitar que os momentos obscuros que me visitam fazem parte da normalidade da vida. Aceitá-los sem ter medo de enlouquecer. Esses sentimentos que carregamos dentro de nós, manifestações dessa energia que tudo cria. É por isso que nos toma de arrebatamento, pois somos predestinados a algo maior. (?) Mas o que seria esse algo maior? Criarmos outras vidas? Desaparecermos no universo? Virarmos chuva? Por que nos toma desse jeito e ao mesmo tempo nos sentimos grandes e tristes? Talvez porque saibamos da nossa mortalidade enquanto seres individuais em contrapartida à imortalidade dessa força cósmica que está em nós e da qual somos manifestação. Nossa parte singular, que abrange em si essa energia, se ressente por ter que desaparecer para dar lugar a esse infinito. Queríamos ser grande de maneira egoísta.
Quando criança, eu queria ter um macaco. Eu subia na goiabeira e chorava olhando o céu infinito e escuro. Aquele vislumbre. Eu que nasci com alma de ave para sempre engaiolada. O vento me trespassa e a chuva me vem aos olhos, brota água de dentro de mim e junto com a lua eu mudo. Meu humor e a lua que é feminina em português e em alemão é o sol que é mulher. E talvez seja essa toda a diferença entre eu e as pessoas, cujo idioma materno é o alemão. Que a lua seja feminina tanto quanto o sol na minha cabeça que aprisiona todos esses conceitos e os deixa zanzar depois de dois copos de vinho. Eu agradeço por não vomitar dentro da pia e por ouvir Edie Vedder todas as noites em que me sinto sozinha.
Eu ando pelo parque do palácio Schönbrunn em Viena. As folhas das árvores farfalham ao vento. Pássaros negros piam de forma assombrosa. O céu está manchado por nuvens brancas, que deslizam lentamente no azul. O sol aparece de vez em quando. Eu me sento num banco de madeira e observo uma formiga enorme que anda por uma trilha de terra. Os pássaros piam de novo e eu me assombro com eles, sem saber se o pio deles é realmente sobrenatural ou se sou eu que me espanto e penso em coisas ruins que poderiam acontecer.
Em nenhum momento eu sou tão inteira quanto no momento em que escrevo um texto e fico satisfeita com ele. Todas as minhas caminhadas pelas ruas, idas ao trabalho, participação em tarefas como comer, ir ao banheiro e dormir se transformam em atos sem sentido perto da realização de finalmente estar satisfeita com um texto. Teve um tempo em que não me preocupava com datas. Hoje dato tudo e parece que tudo já se desvencilha de mim para ficar congelado no que as pessoas chamam de passado.
A antologia Weg-Kreuzungen foi publicada em junho de 2011. In der Anthologie „Weg -Kreuzungen“ schreiben AutorInnen mit Migrationshintergrund oder mit Deutsch als Erstsprache poetische Texte über Menschen, die ihre Heimat aus unterschiedlichen Gründen verlassen mussten und versuchen sich in Österreich eine neue Existenz zu schaffen. Mit unterschiedlichen Blickwinkeln und verschiedenen stilistischen Mitteln wird versucht oft schwierige Aspekte des Zusammenlebens literarisch zu präsentieren. |
Blog da ClauAmenidades. Categorias
All
Arquivos
December 2023
|