K.
Por que estou aqui? Imagine esse personagem cujo sentido na vida ele ainda não sabe, mas está lá. No quarto de hotel onde estamos fede a peixe e o barulho do ventilador incomoda Marcelo. Eu resolvi que não tomaria banho e lavei minha blusa. Agora estou sentada, depois de ter tomado vinho durante o jantar. Conversamos sobre o comunismo. Nessas horas eu percebo como a vida é insignificante, como toda vida é insignificante. Não pela sua falta de importância singular, mas pelo simples fato de que existe um mundo que existe e continuará existindo independente de nós. Um mundo que não se importa com o que acreditamos ou com o que deixamos de acreditar. A vida é um carrossel que roda incessantemente. Se não fosse eu, seria uma outra que estaria escrevendo essas palavras no meu lugar. Ao mesmo tempo sei que não existe nenhuma pessoa como eu. Parece contraditório, mas não é. A flor é única, mas é a primavera que a faz desabrochar. E existiram milhares de flores do mesmo tipo nos anos que nos precederam, assim como existirão milhares de flores do mesmo tipo nos anos que nos sucederão. Primavera, verão, outono, inverno, primavera ... Imagine essa que procura os vestígios de uma outra, imagine essa que no fim descobre que essa outra é ela mesma. Imagine uma que procure as verdades. Eu procurei, eu me lembro dos muros do colégio, aquelas pedras vermelhas. Andando por aquela rua eu pensei em algo, eu pensei no agora, eu quis, eu vislumbrei um pedaço desse momento e agora me vem quase nítido andar por aquela rua e os sonhos que tive. Os quarteirões escuros e tudo mudado e isso faz mais sentido do que a realidade daquela época, uma realidade que nunca serei capaz de relembrar porque essa memória de sonho é mais forte. Andando pela rua e querendo com tanta força saber a verdade. Suspeitando de que a verdade estaria em algum lugar, no momento atual. Boa noite, querida, as ruas daquela cidade como labirintos em minha mente. Me sinto triste e tenho vontade de chorar. Eu me lembro de andar a esmo, de ter medo, desejar um outro futuro, fugir dali. Eu me lembro e essa lembrança enche meus olhos de lágrimas e me queima a pele.
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Passei a última semana de dezembro resgatando palavras usadas. Passei o primeiro dia de janeiro copiando e colando o passado, rascunhando o futuro. Passei a limpo os diários, os textos esquecidos no fundo do armário. Passei de ano, cheirando bolinhas de naftalina. Alinhavando tramas, roteiros, ficção. Escrevendo com agulha e linha na carne. Ponto em cruz. Bordando na pele o ano que se inicia. 2012 Dezembro passou e nem vi. Não derramei nenhuma linha. Não chorei nenhuma palavra. E ele se foi. Ponto. |
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