Eu escrevo essa carta para você, pois eu quero que você se lembre.
Hoje é seu aniversário. Você está sentada à mesa e tem uma xícara de café com leite à sua frente. Você veste pijamas azuis de flanela, aquele com uns ursinhos bonitinhos na estampa, e sobre ele o robe vermelho. Lá fora parece que o sol vai dar o ar de sua graça, a árvore à frente da janela exibe seus troncos nus e secos, como ossos escuros. A paisagem é triste e você espera que novembro chegue logo ao fim, você não agüenta mais olhar esse céu branco e o dia cinza. São quase 8:30 e você ainda precisa lavar os cabelos. Você não sabe qual roupa vai vestir e precisa comprar passagens de trem para Salzburg e Prag. Você não tem a mínima vontade de ir trabalhar, sabe que uma festa surpresa espera por você e preferia ter tirado o dia de folga para andar sem rumo pela cidade. Hoje, dia 28 de novembro de 2011 é o dia do seu aniversário e por isso escrevo essa carta. Eu quero que você se lembre.
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É um equívoco que me faz vomitar na banheira.
Esse ser que não sou eu, que se senta num quarto escuro e que escreve. Esse ser que inventa um outro e que se diz ser ele mesmo. Observa pela janela, do outro lado da rua, a outra: a mulher sentada sob uma luz amarela. Ela não sabe que é vigiada. Ela pressente, não tem certeza. Ela pára, os dedos estarrecidos, os olhos escancarados, os cabelos presos no topo da cabeça. Ela escuta, pensa ter imaginado coisas, volta o rosto para o computador, as mãos nas teclas. Ela escreve para esquecer que é um ser que vive dentro de uma história que eu termino com um ponto final. (um ponto final) . Por que a consciência de se estar vivo não nos acompanha o tempo todo? Por que ao acordarmos e nos prepararmos para o dia, o trabalho enfadonho e a rotina entorpecente mergulhamos nesse estado letárgico? Por que apenas quanto acreditamos estarmos doentes, à beira da morte, ou ao estarmos bêbados ou extremamente felizes somos capazes de sentir a urgência da vida fluindo em nossas veias? A vida cheia de energia e sem equívocos? Por que não somos capazes de senti-la sempre cem por cento, apenas em estado de exceção? Por que vivemos como se não tivéssemos consciência de nossa mortalidade? Como se nossa carne não perecesse a cada segundo, como se nosso rastro não se apagasse atrás de nossos passos?
Eu só tenho as perguntas. |
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