Cansada de mim
da minha própria companhia dessa que conto dessa que descrevo para as pessoas Cansada do cheiro do meu próprio corpo dessa que vejo dessa que exponho nas fotos Cansada da imagem do meu próprio rosto dessa que vejo dessa que encaro quando olho no espelho Se eu pudesse eu fugia de mim ...
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Ai que vontade ...
que vontade que vontade Queria ficar por aqui balangando numa rede comendo banana sentindo calor pimenta na língua Ai que vontade ... de escrever um novo movimento encher meus textos de cores ser antropofágica comer da minha própria cultura falar dos cheiros dos sons gritos êxtases da minha terra Ai que vontade de ser eu mesma sendo outra sendo velha sendo nova repetindo revolucionando sendo Oswald Tarsila eu mesma brasileira européia Esse desejo ... isso é coisa de turista Nesse sábado, meia noite e dezessete.
Estou folheando o livro dele. Eu saí daquela terra gelada e vim parar aqui. "solidão é muito importante" eu coleciono essas frases de escritores. Eu coleciono elas na esperança de poder usá-las, assim deformadas, um pouco diferentes para que as pessoas não notem que elas não são minhas. Como essa: "(...) Eu queria gostar de Teresa, fiz tudo para gostar de Teresa, palavra de honra. Eu precisava gostar de alguém. (...)" Eu poderia ter dito isso. Eu juro, que poderia ter dito isso. Não poderia? Você teria notado? Com certeza não. Eu coleciono essas frases e repito elas na esperança de que de tanto repeti-las elas se tornem minhas. Eu decido fechar livro. meia noite e vinte e oito. Eu devia dormir e parar com isso. "Mas o telefone tocou quando eu estava com o rosto cheio de creme e quando estou com o creme no rosto não sei fazer nada e muito menos falar no telefone." Uma última espiada. Agora fecho mesmo o livro. Eu vou sonhar com um romance inteiro de palavras que não me pertencem. Eu ando pelas ruas dessa cidade
e o som do trânsito entra em mim o calor do sol a areia quente o cheiro das amêndoas o sabor da manga o gosto da água de coco a suavidade noturna entra em mim a risada dos amigos o calor das esquinas a brisa do mar me perpassa me erodi me modifica e me aquece O mundo é pequeno e vasto
como as pessoas que moram nele O mundo é tudo e nada como nossas certezas Tudo em que acreditamos existe até o dia em que deixamos de acreditar Meu espaço virtual
vou construir uma casa na Internet vou morar aqui com meus amigos vou plantar vou varrer o chão vou tirar as teias de aranha dos cantos pintar as paredes Alguém como eu só precisa de uma página em branco Alguém como eu só precisa de meia dúzia de palavras para ser feliz para ser feliz São duas horas aqui
são cinco horas lá da manhã As pessoas dormem aqui as pessoas já acordam lá? amanhã Eu estou aqui pensando em lá Eu estou aqui? Que horas são? Aonde estou? Eu falo sozinha porque a manhã ainda não chegou aqui Eu falo sozinha porque as pessoas não me ouvem lá Eu não estou aqui nem lá estou apenas com sono nesse limite no tempo e espaço entre o que sou e o que não sou acordada no escuro O sol
o sal o mar Eu ando pelas ruas sinto o cheiro de amêndoas O sol a areia o ar Eu vejo crianças brincando nos parques da cidade sol mar areia sal e ar Verão, enfim. O dia que cai
cai em mim com sua força e majestade a noite que entra entra em mim com sua suavidade escura respiro como nunca antes respiro como uma onda que puxa e quebra contra as pedras respiro como um peixe dentro d'água sou eu fora de mim no calor do Rio de Janeiro sou eu que vivo caio e morro na areia de uma praia Esse sentimento
que é como um bichinho que rasteja uma sombra que se alonga sobre mim Que venha o sol que faz tudo ficar mais claro |
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