Seria possível falar nesse idioma, que é como uma fortaleza que me separa do mundo, do mundo que me rodeia e do mundo que existe em mim? Seria possível encontrar um meio termo para me comunicar de forma vital, assim como quando se respira? Criar caminhos para se chegar nas pessoas, ao invés de assistir a tudo bem de longe, sem conseguir me aproximar? Seria possível criar nesse idioma uma nova língua, que pertencesse apenas a mim? Seria possível comunicar com ela as maravilhas desse lugar que existe no centro do mapa, chamado cabeça? Seria possível criar diplomatas, mensageiros nesse idioma que é meu não sendo o meu? Deveria ser possível, pois eu mesma me acostumei a chamar de meu um idioma que é fruto de uma violência.
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Lugares ocos ... mama mia! Que deprimente.
Existe um nome promissor na literatura austríaca: Clemens J. Setz. Seus textos falam de lugares ocos, de pessoas cruéis e de da solidão da cidade. Alguns textos são bizarros, repletos de uma energia violenta. Os austríacos tem tradição nessa atmosfera desolada e Clemens J. Setz com 28 anos ainda vai dar o que falar. Está na hora de fechar o livro deprimente, tomar uma cerveja e aproveitar o dia. Se desvencilhar dessa sensação de desolação, como quem se desvencilha de um casaco num dia de sol. O sol brilha e eu agradeço por isso. Eu me sento num banco e sinto o sol me aquecer. O chão ainda está úmido pela chuva da noite. Eu escolho no meu Ipod o CD que venho ouvindo esses dias: Outside do David Bowie. A música tem a capacidade de me transportar, me levar para longe, me fazer entrar num estado, esse lugar onde tudo é possível.
Quando mais nova eu acreditava que o mundo era um lugar bom, cheio de aventuras a esperar por aqueles que tem mais coragem do que medo. Hoje em dia acho que existem lugares ocos. Lugares repletos de uma áurea de solidão milenar que nos sufocam. Partículas de maldade e de tristeza ficam penduradas no ar a espera de que nós a respiremos. Sem sol chega a fazer frio. Essa música me leva para esse lugar oco. Lá reside algo de cruel e vazio Hoje no jornal tem um artigo escrito por Paul Auster em que ele elogia o livro "I remember" de Joe Brainard, que foi um artista plástico americano. O livro é uma colagem que começam sempre com eu me lembro .... Paul Auster comenta que nas aulas de escrita criativa já se tornou comum usar esse artifício para se produzir textos. Eu me lembro como subia na goiabeira em noites de verão e olhava para o céu estrelado e sentia uma dor imensa em minha alma. Uma premonição de que durante todo o meu percursso na terra eu estaria me sentindo ao mesmo tempo tão perto do céu e tão próxima da queda. E você? Do que você se lembra? Durante a morte dormi e sonhei com a vida. Já se pegou não entendendo sua própria letra e descobrindo pérolas como a acima? Ou tendo um ato falho e percebendo que a relação das palavras cria uma poesia completamente nova e desconcertante? O ato foi falho? Será mesmo? Durante a vida sonhei que morria, até que percebi ... dormia. |
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