A falha, um corte, uma cratera se abrindo no asfalto. Olho pela janela e meus olhos me presenteiam com a ilusão, fantasmas que voam rumo ao céu. Fecho os olhos, minhas pálpebras cansadas.
Pensei em escrever uma história com os mesmos elementos da história que estou lendo, uma assassina no Rio de Janeiro encontrando um homem misterioso, que a contrata para encontrar o livro escrito a mão. Me senti mal, uma sensação ruim dentro de mim. Quando faço uma pausa eu empaco. Esse espaço entre pensamento e ação. Eu investigo, sondo em meu interior esse momento de parada, onde a sensação ruim encontra abrigo. Quando penso que os rapazes, com os quais pego o ônibus todos os dias e converso banalidades no futuro estarão encarando a morte. E esse pensamento oculta o verdadeiro medo: de que muito antes deles estarei eu própria tão enterrada como uma pedra pré-histórica. Pensar na morte só faz prolongar essa sensação ruim, que me corrói ainda mais caustica do que o próprio tempo.
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O corpo denso e pesado limita a imensidão ao aprisionar o infinito e o atemporal.
O corpo fronteira que não permite o migrar da alma. Permaneço encarcerada dentro da pele, entre os órgãos, no espaço de quatro paredes feitas de carne, sangue e ossos. A cidade dorme. Finalmente! O mar de luzes que vejo da minha janela me lembra velas acesas numa igreja. Me pergunto se aqueles que têm medo da noite já fizeram suas orações.
Eu sou essa outra, eu preciso sê-la
Eu tento encontrar em mim a parte de mim que sou Apenas eu sozinha e a parte que é ela Nós somos em muitos aspectos a mesma Encontrar esse limite é importante para observá-la Só assim ela se transforma na personagem Ao lermos um livro que gostamos muito nossa mente fica dentro daquele universo explorando ruas de historias que poderiam ter existido se o escritor tivesse se decidido por elas.
Ao lermos um livro realmente bom ele continua ecoando em nós seja quando dormimos ou quando estamos acordados. Sua magia continua apesar do ponto final na última página. Andando pelas ruas de Xangai tive a impressão de que o ar quente me pressionava as narinas, tornando difícil o simples ato de respirar. As cigarras com seu canto alto pareciam amplificar a sensação térmica. O calor envolveu meu corpo tornando-o lerdo e pesado. Me peguei pensando em Viena no outono. Me peguei pensando em Falkenstein, assim como quem pensa num lugar mágico e inacessível. Não só pela distância, mas também porque o tempo move tanto as coisas quanto os lugares.
É impossível se voltar a um mesmo lugar duas vezes. Tanto o lugar quanto aquele que o visita já serão um outro. Quando voltar em Falkenstein o lugar que eu conhecia estará perdido para sempre no tempo. Ele será apenas uma lembrança em minha mente. Passamos o dia na praia, sentindo a lerdeza no corpo, ouvindo as ondas quebrarem com estrondo na beira. O cheiro de protetor solar misturou-se ao cheiro de água salgada na nossa pele. À noite fomos comer no restaurante ao lado do Resort.
Fomos recebidos calorosamente pela vietnamita, que se alegrava por receber estrangeiros. Em aquários e caixas de isopor peixes, camarões, caranguejos e duas lagostas nadavam e se exibiam para os clientes. Pedimos lagosta, que a cozinheira preparou num molho de cebola, tomate e pimenta. As meninas que serviam e não deviam ter mais de dezesseis anos trouxeram a lagosta em uma bandeja e a colocaram em cima da mesa. Em seguida vestiram luvas de plástico, dessas usadas para se pintar o cabelo em casa, e se puseram a abrir a pança da lagosta com tesoura de cozinha. Depois misturaram a carne rosada com o molho e com batata-frita usando as mãos ainda enluvadas. A lagosta estava uma delícia. De onde estava sentada vi a lua aparecer no horizonte. Primeiro encoberta por nuvens, depois em todo seu esplendor. A lua cheia exibiu uma luz tão dourada que mais parecia o sol iluminando o céu no horário em que devia se recolher. A lua jogou sua luz dourada sobre o mar, que refletiu-se como pedrinhas de diamantes na superfície da água. |
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