Janela aberta, a manhã enche o horizonte de luz
se aproxima aos poucos Não dormi nada pensando em você Aguardando que você destrancasse a porta e me libertasse desse mundo, dessa falta de esperança Construí ilusões e as guardei numa caixa fechada, mas você me ensinou outra coisa me fez duvidar desses desenhos na folha branca me fez querer algo além dessas paredes cinzas O mundo que existe além de nós distante escondido nas gavetas daquela cabana fria Sei que não faz sentido por isso a carta está dobrada dentro do envelope por isso ela não foi selada e será esquecida como tudo mais
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Te mando um convite em papel prateado
Vamos fugir para outra galáxia no portal que se abre entre universos eu e você viajando no tempo e espaço além do aqui e agora Acredite há lugares sagrados até nos países inventados Nascemos de novo e damos nomes às coisas aquilo se chama terra, bronze, tronco as primeiras pessoas a descobrir o céu, a terra, a chuva Aquele animal se chama lagarta Essas coisas dentro de você poeira das estrelas, força e coisas que não se pode guardar trancar dentro de uma caixa e enterrar Chuva amolece a terra lágrimas, morna e salgada, pela pele os segredos enterrados estremecem aurora se aproxima veja, aquilo se chama um novo dia. Limpador no para-brisa molhado, acelero
os faróis iluminam o asfalto a escuridão e o barulho da chuva meus nervos à flor da pele Será a última vez as lágrimas insistem engulo em seco Aquela ligação Curva, cheiro de terra árvores funestas como sentinelas à margem da estrada vou te contar algo que você não quer ouvir Se eu pudesse... se houvesse como chegar até você além dos seus segredos todas as coisas escuras sombras escondidas Tenho medo de não chegar Tenho medo de não chegar nunca >>Então?<<
Nenhuma resposta da parte dele. Seus olhos se estreitam. O salão cheio de pessoas, mesas, cadeiras, toalhas de linho, xícaras, cafés. Cheiro de presunto e queijo derretido. Risadas do outro lado. Eu me levanto. Nossos olhos se encontram. >>Não acredito, seu covarde.<< O garçom se aproxima, luvas brancas e uma taça de vinho. O garçom hesita. Vermelho, o vinho. Permaneço imóvel. Minha respiração é alta. Ele engole em seco, o garçom e coloca a taça com cuidado sobre a mesa. Afasta-se. Os olhos grudados em nós dois. Dou mais uma chance a ele. Sem palavras, são olhos que suplicam. Ele se mexe na cadeira, parece relaxar. É isso? Ondas quebrando numa pedra. Azul e branco, verde e pedra. Está desistindo, é isso? Dou um passo. O que posso dizer? "Não me ligue". Palavras sem peso. Derramar a xícara? Café negro na toalha branca. Dramático, coisa de novela. O vinho, contra a parede. Pessoas se calando, risadas morrendo, o garçom sussurrando com o maître. Não. Caminho, passo por ele. É um movimento ínfimo, sua mão, ao alcance, seus dedos sobre os meus. Fria, sua pele. Hesito. É muito pouco, não é? Ondas no mar, fortes e violentas. Determinadas contra as pedras. Não assim, como eu. Num movimento mínimo. Fico parada, me agarrando a algas, são assim seus dedos, como algas. Não suportam, escorregadias, mas me agarro a elas. Seus dedos finos. Me agarro a ele. Então é isso. E o ano nem começou aqui no blog
não é mesmo? Agora que percebi O início bem no meio mas não vamos ligar para trivialidades bem sabemos que inícios, meios e fins são ilusões quando estamos no meio da noite na companhia de um bom livro Escolhe:
Naquele dia você quis ... e tudo pelo que passou no mundo toda sua dor e se pudesse escolher o que seria? ... o vazio é tão cheio de tudo e o que não se diz se entranha na matéria da realidade faz parte de nós faz parte do mundo #01
lesmas se arrastam pelos sonhos devorando os pés das mesas #02 suspensas como escadas que não levam a lugar algum as mesas #03 quero subir e encontrar a vozinha de coque encarando o relógio o tique-taque tempo que não volta o tique-taque se arrasta #04 por mesas escadas tempo tudo aquilo que é devorado pelos pés fantasmas de (reticências) inexistentes Dia desses fui a Nuremberg
Na semana Precisei ir, não fui trabalhar e me vi em Nuremberg Passeando pelas ruas Me lembrei de Rosane Deu vontade de escrever uma história, desacelerar, contar com riqueza de detalhes o que a personagem faz e pensa Andar por uma cidade como uma estranha Andar pela primeira vez, turista Observar o túnel recortado no dia luminoso O túnel escuro engolindo pessoas Desaparacendo com elas Descrever de modo poético pessoas sendo engolidas pela escuridão na cidade iluminada pelo sol de início de primavera Deu vontade, mas não escrevi. Bem devagar dançam no ar
os flocos de neve Pio dos pássaros Sempre presente Com leveza de açúcar polvilhada A neve Se aconchega nos troncos e galhos O frio tem algo de permeável Entra dentro da gente Ou somos nós que entramos dentro do frio? Respirando como maria fumaça |
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