O tempo é algo assim como um trem que nos desloca do lugar onde estamos, sem que precisemos movimentar nosso corpo. Permanecemos sentados olhando pela janela, nos sentindo como crianças, hipnotizados pela paisagem, pelo vento contra o rosto. E quando chegamos no destino, somo já outros, distantes do que éramos, distantes do que deixamos para trás, sem que tenhamos noção disso. Apenas quando nos olharmos mais uma vez no espelho e vermos nossas rugas de expressão nos será claro, o trem nos levou e nós permanecemos parados. Esse texto foi inspirado por esse de Kafka: "31. Juli. 1917 In einem Eisenbahnzug sitzen, es vergessen, leben wie zu Hause, plötzlich sich erinnern, die fortreißende Kraft des Zuges fühlen, Reisender werden, die Mütze aus dem Koffer ziehn, den Mitreisenden freier, herrlicher, dringender begegnen, dem Ziel ohne Verdienst entgegengetragen werden, kindlich dies fühlen, ein Liebling der Frauen werden, unter der fortwährenden Anziehungskraft des Fensters stehn, immer zumindest eine ausgestreckte Hand am Fensterbrett liegenlassen. Schärfer zugeschnittene Situation: Vergessen, daß man vergessen hat, mit einem Schlage ein im Blitzzug allein reisendes Kind werden, um das sich der vor Eile zitternde Waggon, anstaunenswert im Allergeringsten, aufbaut wie aus der Hand eines Taschenspielers."
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Ontem achei um livro interessante e muito elegante na biblioteca, com depoimentos de escritores de língua alemã sobre seus processos criativos. Elfriede Jelinek diz que o computador foi feito para ela. Raramente ela escreve um texto à mão. Günter Grass por sua vez gosta de canetas antigas e chega mesmo à escrever com aquelas canetas com pontas de penas. Herta Müller diz que não se importa com o material de escrita. Que na época em que viveu na Romenia comunista roubava papel da fábrica em que trabalhava como tradutora para poder escrever. Ela escreve direto no computador. Quando escreve à mão prefere caneta vagabunda e diz que não conseguiria escrever em papel bonito, pois seus temas são tão crus que ela se sentiria intimada por papéis finos e decorados. Eu escrevo tanto no computador quanto à mão. Sinto necessidade também de imprimir o escrito no computador. Quando percebo que o trabalho no computador não rende, desenho ou faço um exercício de escrita livre para desbloquear. Um dos autores, que não me recordo o nome, deu esse depoimento que deve seguir como guia para todo escritor. Perguntado sobre se ele precisa de algum ritual para escrever ele respondeu: "não preciso de ritual para escrever, só preciso de caneta e papel." Então ... mãos à caneta e palavras ao papel. João Ubaldo Ribeiro esteve aqui em Viena lendo crônicas do seu livro "um brasileiro em Berlim". Foi um sucesso. O bom humor do escritor baiano é contagiante. Para os brasileiros que vivem na Europa é um deleite acompanhar as aventuras dele e as observações a respeito das nossas diferenças culturais.
Essas situações que os brasileiros morando fora do Brasil sentem na pele. Um dia desses visitando uma sorveteria aqui em Viena, que faz seus sorvetes com "frutas exóticas" vindas da Amazonia, me peguei num desses dilemas. Meu marido resolveu provar o sorvete de Taperebá. Como sou do Rio de Janeiro fiquei constrangida de dizer a ele que não tinha idéia do sabor de tal fruta, que para mim também soava exótica. Eu apenas respondi que o sabor era .... suculento ... assim difícil de explicar ... só provando. Depois que provei reconheci que tinha gosto de cajá. Cajá eu conheço de longe por causa do cajá-manga, que é o parente mais próximo encontrado em abundância no Rio de Janeiro. Pois é ... já dá para escrever um texto de "uma brasileira em Viena." |
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