(4)
"Preciso de uma arma." Minha voz abafada pela máscara branca na cara. "Não está exagerando?" "Eu o vi, tenho certeza, se tiver chance vai me matar." "Você sabe atirar?" Puxei o ar, qualquer dia vou sufocar nessa cidade. "Anda, avisa Chang." "Não devia confiar nele." "Quem disse que confio?" O que pensei: não confio nem em você, seu filho da puta. (5) Cheiro de gelol. O chá verde-musgo dentro do copo de vidro. Os dedos da massagista pressionando os calombos nos ombros tensos. Não prestava atenção ao que dizia com sua voz de taquara rachada. "Wo jian jao zhing zhong." E se o assassino na cabine ao lado me notasse ali? (6) Alarido de cigarras. Na esquina o chinês virava na churrasqueira espetinhos de larvas de inseto. "Ele traz passaporte sexta, quinze mil kuai ... notas de cem." Assenti. "Notas cem, cem." Começava a me enervar. O cheiro de alho vindo de sua boca cheia de dentes amarelos me machucava fisicamente. "Ok le!", disse me sentindo um pouco tola. (7) Era uma mulher. Ela. Chineses desgraçados que não distinguem pronomes pessoais. Buzinas, fedor insuportável de tofu velho. Precisava de outro plano bem rápido. Pensa, pensa. E se desistisse? Cabelos muito lisos, negros como tinta, olhos rasgados, boca vermelha. Face branco-leite. Poderia ser personagem má de Kurosawa. Fora de cogitação. Eu teria de matá-la.
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