Seria possível falar nesse idioma, que é como uma fortaleza que me separa do mundo, do mundo que me rodeia e do mundo que existe em mim? Seria possível encontrar um meio termo para me comunicar de forma vital, assim como quando se respira? Criar caminhos para se chegar nas pessoas, ao invés de assistir a tudo bem de longe, sem conseguir me aproximar? Seria possível criar nesse idioma uma nova língua, que pertencesse apenas a mim? Seria possível comunicar com ela as maravilhas desse lugar que existe no centro do mapa, chamado cabeça? Seria possível criar diplomatas, mensageiros nesse idioma que é meu não sendo o meu? Deveria ser possível, pois eu mesma me acostumei a chamar de meu um idioma que é fruto de uma violência.
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Esses sentimentos que carregamos dentro de nós, manifestações dessa energia que tudo cria. É por isso que nos toma de arrebatamento, pois somos predestinados a algo maior. (?) Mas o que seria esse algo maior? Criarmos outras vidas? Desaparecermos no universo? Virarmos chuva? Por que nos toma desse jeito e ao mesmo tempo nos sentimos grandes e tristes? Talvez porque saibamos da nossa mortalidade enquanto seres individuais em contrapartida à imortalidade dessa força cósmica que está em nós e da qual somos manifestação. Nossa parte singular, que abrange em si essa energia, se ressente por ter que desaparecer para dar lugar a esse infinito. Queríamos ser grande de maneira egoísta.
Quando criança, eu queria ter um macaco. Eu subia na goiabeira e chorava olhando o céu infinito e escuro. Aquele vislumbre. Eu que nasci com alma de ave para sempre engaiolada. O vento me trespassa e a chuva me vem aos olhos, brota água de dentro de mim e junto com a lua eu mudo. Meu humor e a lua que é feminina em português e em alemão é o sol que é mulher. E talvez seja essa toda a diferença entre eu e as pessoas, cujo idioma materno é o alemão. Que a lua seja feminina tanto quanto o sol na minha cabeça que aprisiona todos esses conceitos e os deixa zanzar depois de dois copos de vinho. Eu agradeço por não vomitar dentro da pia e por ouvir Edie Vedder todas as noites em que me sinto sozinha.
Queria ter mais Tempo. Tempo para ler, para escrever resenhas dos livros que li. Tempo para escrever, para ver mais filmes, ir a exposições. Tempo, tempo. Nós deveríamos tirar férias para ficarmos conosco apenas. Não visitar ninguém, não viajar, ficar apenas conosco em algum apartamento. Trancados com o rádio ligado, comendo pizza, lendo livros. Da próxima vez vou fazer isso. Cansada de mim
da minha própria companhia dessa que conto dessa que descrevo para as pessoas Cansada do cheiro do meu próprio corpo dessa que vejo dessa que exponho nas fotos Cansada da imagem do meu próprio rosto dessa que vejo dessa que encaro quando olho no espelho Se eu pudesse eu fugia de mim ... Ai que vontade ...
que vontade que vontade Queria ficar por aqui balangando numa rede comendo banana sentindo calor pimenta na língua Ai que vontade ... de escrever um novo movimento encher meus textos de cores ser antropofágica comer da minha própria cultura falar dos cheiros dos sons gritos êxtases da minha terra Ai que vontade de ser eu mesma sendo outra sendo velha sendo nova repetindo revolucionando sendo Oswald Tarsila eu mesma brasileira européia Esse desejo ... isso é coisa de turista Esse sentimento
que é como um bichinho que rasteja uma sombra que se alonga sobre mim Que venha o sol que faz tudo ficar mais claro O leitor on-line entra na página sobre literatura, escolhe um autor e depois um conto.
“Muito grande”, diz o leitor on-line e procura outro. “Muito grande.” Cansado depois de duas tentativas ele desiste. Nesse mar de informações ninguém tem paciência. É preciso ingerir rápido que ninguém tem o dia inteiro. Textos curtos, meus senhores, textos curtos. Ele entra numa outra página dessa vez de poesias. “Complicada.” É preciso ter tempo, ler de mansinho para poder absorver os mistérios das entrelinhas. O leitor on-line não quer saber de entrelinhas. Aporrinhado ele desliga o computador e resolve ver TV. A Internet é a materialização do inconsciente coletivo. É por isso que tem tanta perversão na rede.
Os personagens de Olhos de cão azul do Gabriel García Márques no nosso tempo se encontrariam não num sonho e sim num Chat Room. E a personagem feminina mandaria E-mails compulsivamente “Olhos de cão azul”, “Olhos de cão azul” e obteria como resposta a seguinte mensagem: “Esse endereço será bloqueado pelo abuso no envio de E-mail não solicitado.”
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