Minha irmã mais velha tinha um livro de poesias do Mário Quintana.
Ela largou o livro numa prateleira. Eu abri o livro e a poesia escorreu pela página. Eu precisei ler escondido, já que aquele acelerar do coração nao podia ser coisa permitida. Na orelha do livro o Quintana comentava que, para ele, os livros de poesia tinham que ter muito espaço em branco nas páginas, para que as crianças escrevessem e desenhassem neles. E os rabiscos das crianças fariam parte da poesia. Eu não era mais criança, mas naquela hora senti vontade de escrever e desenhar no livro. Pensei mesmo em fazê-lo escondido à medida que lia. Covarde, não tive coragem. Hoje em dia esse é um dos meus maiores arrependimentos. Não ter chorado sobre aquelas folhas, não ter rabiscado-lhe as páginas. Desenhado sóis rosas e árvores arroxeadas. De que valeu tê-lo poupado de tudo isso? Agora ele está amarelando-se em alguma prateleira distante de uma casa escura e triste.
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December 2023
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