"Horácio vai andar por aí procurando coisas" A soprano gorda encharcada de chuva com o casaco fedendo a pano de chão encardido Uvas verdes na bancada do turco da esquina Uma garrafa de vodca barata O escritor que foi atingido por um carro e levado ao hospital A Maga com o guarda-chuva quebrado que encontrou no parque Suas próprias idéias como peixes dentro de um aquário O rio surrealista e subterrâneo místico Cheiro de pó dos livros esquecidos nos sebos de Buenos Aires
0 Comments
Forno, cigarras, frutas na calçada na porta da loja, dragonfruit (que nome teria em português?), figos, me lembram do mediterrâneo que nunca conheci, seria bom, ilha grega, mar azul. Conveniente o enorme guarda-sol na esquina, esperando o sinal ficar verde, o chinês senhor que pára ao meu lado me olha de cima abaixo. Tomo muito espaço na sombra? O sinal nem ficou verde e avançamos, já que alguns carros pararam, encontro com os que vem em sentido oposto na segunda pista, onde os carros dobram a direita e disputam o asfalto com os pedestres. Chinês pára, eu sigo em frente, sem olhar para o lado. Sigo, sigo, sigo. Calor danado, devagar para não suar demais, jovenzinhas com sombrinhas, florezinhas e o fundo negro contra os raios de sol que se enfiam na nossa pele, jovenzinhas de shorts, cabelos negros soltos, lisos, pele branco-leite. Toilete público, funcionárias da limpeza conversando com um homem de uniforme sentado numa motinha, walkie-talkie esperneando na sua cintura, cheiro de incenso, estação de ônibus, chineses esperando, árvores na calçada jogam as sombras de suas copas no chão, troncos com pele de vitiligo. Boca da estação, linha quatro, frescor, descendo as escadas, cartão do metrô, mochila no aparelho, a chinesa ao lado não atende aos apelos da mulher da segurança uniforme cor de rosa, cabelos presos. Um engraçadinho entra na minha frente, passo o cartão na máquina ao lado, enquanto ele fica emperrado, satisfação da minha parte, sou mais rápida do que ele. Descendo a escada, branco-leite na minha frente, magrelinha como uma galinha despenada. Aguardo o metrô chegar para me levar para a próxima parada. A próxima parada. As fadinhas com varinhas na mão batem asas e jogam pozinho de pirlimpimpim A boneca se espreguiça e as janelas fechadas Todos dormem As fadinhas riem sem os dentes da frente, banguelinhas executam piruetas de louva-deus e agitam suas asinhas cintilantes e a lua quer entrar no quarto se ela atravessa a cortina se ela se força pela sombra da noite o que acontecerá? Uma bailarina dança no centro do meu medo Uma bailarina com asas de borboleta Ossos de lagartixa Uma bailarina se olha no espelho no centro do meu medo Eu sem ossos Com pele de lagartixa Transparentes. Os olhos dela Inquebráveis. Os meus medos Os ossos que dançam no centro do espelho Eu de asas Como uma borboleta bailarina dançando no espelho do meu centro Calor, calor, calor, fornalha acesa. Fazia esse calor todo no Brasil? Certo que sim, mas não me preocupava com o ar poluído. Nos finais de semana podia ir para a praia de manhã e à tardinha me fechar no cinema refrigerado, tão frio que ia com casaco e meia. Assistir a filmes encolhida no escuro chupando balinha de caramelo. |
Blog da ClauAmenidades. Categorias
All
Arquivos
December 2023
|